⥽ QUANDO ORARDES ⥼ J. I. Packer
Porém, se você crer, como os cristãos, que Jesus é a imagem de Deus - isto é, que Deus é como Jesus no caráter - então, você não terá mais dúvidas e reconhecerá que falar com o Pai e o Filho em oração é tão natural quanto foi para Jesus falar com o seu Pai celestial, ou para os discípulos falarem com o seu Mestre durante os dias de seu ministério terreno.
Uma conversa de duas vias
Conversas com nossos pais, ou sábios amigos que amamos e respeitamos, com pessoas que estão prontas a nos ajudar com conselhos e ações, não são conversas sem sentido ou tediosas, mas, ao contrário, é com alegria que passamos todo o tempo com essas pessoas - na verdade, até marcamos horário para tais conversas - porque as valorizamos e ganhamos com a companhia delas. E assim que deveríamos pensar sobre momentos de comunhão com Deus na oração. Quando o metodista Billy Bray disse, como frequentemente fazia: “Preciso falar com o Pai sobre isso”, era sobre oração que ele estava falando.
Então Deus realmente nos diz coisas quando oramos? Sim. Provavelmente não ouviremos vozes, nem sentiremos impressões fortes repentinas de uma mensagem vinda até nós (e seremos sábios se suspeitarmos de tais experiências se porventura nos vierem). Mas ao passo que analisamos e verbalizamos nossos problemas diante do trono de Deus e falamos para ele o que queremos e por que queremos, pensando em nossa vida, no problema em questão, por meio de passagens e princípios da Palavra escrita de Deus, então encontramos muitas certezas concretas em nosso coração sobre a perspectiva de Deus, sobre nós e nossas orações, e sobre sua vontade para nós e para todos. Se você perguntar: “Por que isto ou aquilo está acontecendo?”, não ajudará muito, pois: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus” (Dt 29.29). Mas se você perguntar: “Como devo servir e glorificar a Deus aqui e agora onde estou?”, sempre haverá uma resposta.
Criados para orar
Não é um exagero dizer que Deus nos criou para orar, que a oração é a atividade mais natural (não a mais fácil) na qual podemos nos envolver e que é a medida de todos nós à vista de Deus. “O que um homem é sozinho de joelhos diante de Deus, isto é o que ele é e nada mais”, disse Murray McCheyne.
Talvez os discípulos de Jesus tenham sentido isso quando fizeram aquele pedido marcante: “Senhor, ensina-nos a orar” (Lc 11.1). Você já pediu a mesma coisa? Jesus deve ter ficado feliz com o pedido. No entanto, como um bom professor, ele controlou seus sentimentos e deu uma resposta concreta. “Quando orardes, dizei” - e pela segunda vez em seu ministério público o Senhor lhes deu o formato das palavras que chamamos de oração do Pai-nosso (Lc 11.2-4; cf. Mt 6.9-13).
“Dizei.” Será que Jesus pretendia que seus discípulos somente repetissem as palavras como papagaios? Não, mas que eles entendessem o sentido. “Dizei” tem o sentido de “significa”. Essa oração é um padrão para todas as orações cristãs. Jesus está ensinando que a oração será aceita quando, e som ente quando, as atitudes, os pensamentos e os desejos expressos se encaixarem com o padrão. Em outras palavras, podemos dizer que cada oração que fazemos deve expressar as mesmas verdades ensinadas na oração do Pai-nosso.
Aprendendo a orar
“Experiência não pode ser ensinada!” A frase é de um catálogo sobre o mercado de trabalho para o jovem, mas é uma verdade tão profunda sobre oração quanto é sobre habilidades para ganhar dinheiro. Orar, como cantar, é algo que você aprende a fazer, não lendo livros (nem mesmo este), mas praticando. E uma atividade tão espontânea e natural que você consegue realizar sem nem mesmo ler a respeito do assunto. Porém, assim como a técnica vocal ajuda a cantar melhor, a experiência e o conselho de outros podem nos ajudar a orar com um propósito melhor. A Bíblia está cheia de modelos de oração: 150 orações de louvor, petição e devoção estão contidas no livro de Salmos e muitos outros exemplos de com o orar apropriadamente também estão registrados, com muito ensino sobre o assunto.
Não deveríamos nos contentar em imitar orações de outras pessoas, e Deus não gostaria que assim fizéssemos, pois que pai ficaria feliz com um filho que só conversa usando citações dos outros, limitando assim sua conversa à recitação do sentimento de outras pessoas? Mas assim como a interpretação de uma peça por outro pianista pode ajudar um músico novato a tocá-la melhor, ainda que não exatamente da mesma maneira, também somos auxiliados a encontrar nosso próprio modo de orar atentando como outros oravam e, na realidade, oramos com eles. Sobretudo, temos a oração do Pai-nosso como guia.
Como a análise da luz requer uma referência às sete cores do espectro que a compõe, da mesma maneira a análise da oração do Pai-nosso requer uma referência ao espectro de sete atividades distintas: aproximar-se de Deus em adoração e confiança; reconhecer sua obra e seu valor na adoração e louvor; admitir o pecado e procurar perdão; suplicar pelas nossas próprias necessidades e pelas de outros; argumentar com Deus para bênção, como Jacó lutou com Deus em Gênesis 32 (Deus ama ser arguido); aceitar da parte de Deus a própria situação como ele a moldou; e manter-se fiel a Deus nos momentos maus e bons. Essas sete atividades conjuntamente constituem a oração bíblica, e a oração do Pai-nosso engloba todas elas.
A oração do Pai-nosso serve para direcionar e estimular constantemente nossa oração. Orar de acordo com ela é a maneira certa de manter nossas orações dentro da vontade de Deus. Orar por meio dela, expandindo as suas sentenças, enquanto você vive e experimenta cada uma delas, é a maneira certa de prosseguir quando a oração fica truncada, quando você não consegue ir muito além e se vê sem inspiração. Ela não é somente a primeira lição de Jesus sobre oração, mas todas as outras lições. Senhor, ensina-nos a orar.
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